Carnismo e Sexismo – Carne e poder patriarcal

Propaganda sexista ligando a masculinidade ao consumo de carne

Qual a relação entre dominância masculina e consumo de carne? Qual ligação há entre carnismo, cultura da   violência contra mulher e objetificação feminina? Que mulher nunca ouviu de outra mulher (ou pronunciou) algo semelhante a “me senti um pedaço de carne” ou foi comparada a uma “vaca”, uma “galinha” ou um “filé”? ⠀

Precisamos falar sobre como se construiu a ideia de que é um privilégio ter acesso à carne e porque é ligada ao poder. Há uma lógica da dominação dos corpos que vem sendo construída pelo patriarcado ao longo dos séculos e que se reflete nas opressões e na nossa relação com os alimentos. As pessoas que têm poder comem a melhor carne, já os cidadãos de “segunda classe” comem as sobras. ⠀

Por outro lado, existe um mito de que a carne é um alimento masculino e seu consumo é um indicador de virilidade. Por isso mesmo o consumo é constante para homens e intermitente para mulheres, padrão que fica evidente em situações de fome. Quando famílias da classe operária não podiam comprar carne para todes, as mulheres se privavam para oferecer e aos homens e depois às crianças. Para as mulheres, ficava o que sobrasse (hortaliças, frutas, legumes e grãos), surgindo a associação de vegetais às mulheres e de carne aos homens. Um exemplo de como essa crença segue é o churrasco, majoritariamente dirigido ao público masculino, seja nos utensílios, nos livros de culinária e nas propagandas sexistas. ⠀

Ainda se carrega a cultura de desprezar os alimentos vegetais no prato. Assim como mulher não é autossuficiente para viver sozinha, comer “só vegetais” não é uma alimentação completa. Desde que as mulheres se tornaram auxiliares num mundo carnista dominado pelo patriarcado, o mesmo aconteceu com o alimento. Essa construção histórica foi tão enraizada que até hoje se reproduz em falas como “por mim, eu nem comeria carne, mas meu marido não aceitaria”.⠀

Há outras reflexões e detalhamentos no livro “A Política Sexual da Carne”, escrito há 30 anos pela ativista norte americana Carol J Adams. Ele aborda (entre outras coisas) o ciclo de objetificação, fragmentação e consumo, para os animais e para as mulheres.

Este artigo se propõe a ser apenas uma introdução ao tema.