O problema é o ser humano?

Anualmente, bilhões de animais são mortos e têm suas partes destrinchadas e comercializadas para que seres humanos possam consumi-las. Vítimas de uma indústria que propaga a ideologia especista, esses seres vivos são enxergados como apenas mais uma mercadoria à disposição da nossa espécie.⁣

Frente a esse problema e a muitos outros que poderiam ser listados, como desmatamento de florestas, poluição das águas, volume estrondoso de lixo gerado anualmente, até parece lógica a inferência de que há algo errado na humanidade.⁣

As pessoas que se indignam com esses infortúnios deixam de se enxergar como uma parte da sociedade e assumem uma posição de isolamento, de “eu contra o mundo”. Esse desencantamento pode provocar um desgosto generalizado à espécie humana. ⁣

Estabeleceu-se uma lógica de que a natureza da nossa espécie é, sem dúvidas, má, e que a única solução para os problemas relativos a isso seria o nosso desaparecimento da face da Terra, afinal, nós que somos o problema! Não é à toa que, durante a pandemia de COVID-19, popularizaram-se na internet frases e charges afirmando que o vírus, na verdade, é o próprio ser humano. ⁣

Acontece que essa generalização torna turva nossa visão e capacidade de análise. A raiz da exploração animal do século XXI não está em quem consome carne. Essas pessoas têm potencial para serem conscientizadas, assim como nós, em um dado momento de nossas vidas, também fomos. Como ativistas, jamais podemos abandonar a ideia de que todes podem aprender. ⁣

Os pontos centrais da exploração animal não estão nas minúsculas peças de um sistema especista, mas sim em quem tem o interesse de fazer a máquina continuar funcionando: a classe dominante. Isso não significa que iremos normalizar atitudes especistas vindas de quem não está nessa classe, apenas que as estratégias de ação deverão ser feitas de formas distintas. ⁣


Compreender quem são as peças-chave do sistema e com quem podemos nos aliar na hora de destruí-lo é crucial para o desenvolvimento da militância como um todo. Que possamos compreender a capacidade de transformação existente na espécie humana e buscarmos, sempre em conjunto, alternativas para a vida em sociedade!

Vale lembrar que a própria lógica capitalista tem um papel importante nessa desmobilização: somos ensinados a enxergar “o outro” como alguém que só buscará pelos seus próprios interesses, e nós também deveríamos reproduzir esse comportamento. Caso contrário, podemos ser “deixados para trás”. Essa visão se soma com uma decepção generalizada frente ao ser humano e afasta quem poderia estar se juntando a outras pessoas e construindo uma rede de ativismo e solidariedade.