O veganismo é antivacina?

O perigo do negacionismo

Uma das dúvidas mais recorrentes no atual cenário pandêmico é o posicionamento de veganes quanto à vacinação. É sabido que a Anvisa determina os testes em animais como etapa essencial da produção de vacinas até a sua efetiva circulação. Posto isso, e tendo o veganismo como um movimento que se opõe à exploração animal para qualquer finalidade, surge o questionamento: veganes se vacinam?

Para responder a essa pergunta, primeiro temos que desvirtuar o movimento vegano de supostos dualismos morais (certo/errado). Existem certas questões que transcendem o nosso hábito individual de consumo e se locomovem para a esfera pública. Veganes precisam encarar sua realidade como estruturada em cima da exploração animal e, portanto, havendo contradições materiais que inviabilizam o boicote.

Um desses exemplos é a vacina. Existe um órgão de saúde pública que se encarrega dos critérios para sua produção e impõe os testes em animais como necessários. Atualmente, não há alternativas concretas para um modelo de vacinação universal sem utilização de animais. Assim sendo, não é contraditório veganes se vacinarem para o bem da saúde coletiva, impedindo o surgimento de pandemias como a que estamos vivendo, que dizima milhares de humanos e imobiliza ativistas em suas casas.

Ademais, existe um esforço da mídia sensacionalista e burguesa em desmoralizar movimentos que lutam contra a exploração de qualquer expressão do capital. O veganismo que adere às falácias do movimento retrógrado antivacina difama a imagem do seu movimento e dá palco para que associem o veganismo como negativo. Se queremos revolucionar o movimento vegano, devemos pensar em como, daqui para frente, criaremos as condições materiais para uma ciência sem exploração animal, tornando obsoleta a utilização de animais para esse fim.

Isso não significa que veganes se conformam à exploração animal, mas sim que, na ausência de alternativas, não devem utilizar do boicote para sua oposição. Existem outras maneiras de se protestar contra testes em animais que não envolvem essa prática, como organizar manifestações e panfletagens contra os testes e apoiar organizações científicas que propõem alternativas!

Sempre é válido lembrar que o veganismo não é um dogma ideológico incontestável e maquiavélico que apresenta suas definições cristalizadas e intolerantes a contextualizações. Veganes devem seguir o princípio de que toda vida animal importa e mediar o quanto certa atitude colabora para a libertação animal, e não favorecer uma espécie acima da outra.⁣⁣