Uma outra alimentação é possível – Reflexões sobre uma relação saudável com o que nos nutre

PFzão com 100% de alimentos vindos da FAE (Feira Agricultores Ecologistas), em Porto Alegre

Quando falamos em cores, aromas e sabores juntos e misturados em um lugar só antes do sol nascer, o que vem na tua cabeça? Normalmente esse é o cenário encontrado por quem frequenta as feiras ecológicas da cidade.

A feira livre é a opção mais acessível para quem deseja manter uma rotina de alimentação saudável, a custo relativamente baixo (quando comparamos o preço dos orgânicos nos supermercados com o preço dos orgânicos nas feiras) e, ao mesmo tempo, fomentar o comércio local e a pequena agricultura. E não é de hoje, viu? Esse formato de compra e venda de alimentos, praticado desde o início dos tempos com o intuito de promover trocas de mercadorias entre pessoas de diferentes lugares e com diferentes itens, felizmente, resiste até hoje.

E, mais gostoso do que estar na feira, só o pós: colocar no prato e para dentro do corpo os alimentos que saíram de lá. Refletir sobre o ato de cozinhar pode nos ajudar a questionar esse sistema alimentar capitalista e monopolizado, que se baseia no incentivo ao consumo de alimentos ultraprocessados. Nós compreendemos as limitações dessa reflexão: em uma sociedade patriarcal, o ato de cozinhar pode ser encarado como uma tarefa doméstica imposta aos papéis femininos, ao invés de ser uma maneira de reestabelecermos uma ligação com o que estamos comendo. Todo esse processo de distanciamento dos alimentos, seja no consumo exacerbado de industrializados, seja nessa subversão do que o ato de cozinhar deveria representar para as pessoas, tem suas raízes bem nítidas no sistema capitalista em que vivemos.

Se não bastasse esse argumento, o gasto com uma alimentação saudável baseada em alimentos vindos da feira pro prato é menor do que o custo de uma alimentação saudável baseada em produtos industrializados advindos das prateleiras de supermercados com o selo de “fitness”. Comprar, limpar, cortar, cozinhar e servir a própria comida pode sim ter a ver com autonomia e compreensão da cadeia produtiva que faz o corpo ser nutrido. Se for da feira é melhor ainda porque existe o apoio direto às estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos. Afinal, política e economia passam pelo nosso prato todos os dias a partir do momento que escolhemos o meio de produção, distribuição e consumo que fez possível nossa nutrição.

Ir na feira e cozinhar o que sai de lá tem poder. Por isso, aí vai uma sugestão de PFzão com 100% de alimentos vindos da FAE (Feira Agricultores Ecologistas), em Porto Alegre:

– Arroz integral com garam masala, tempero verde e cebola
– Batata com páprica e orégano
– Quibebe com alecrim e alho
– Milho
– Hambúrguer de feijão
– Feijão (sim, de novo)
– Alface e tomate com molho de limão, sal e azeite
– Temperos: cebola, alho, páprica, alecrim, orégano, limão e sal em quase tudo

Para quem tem escolha de onde, de quem e como comprar alimentos, já pensou se as escolhas estão coerentes?