A força dos discursos na determinação da realidade

Linguagem, política e especismo

É no período eleitoral que a importância dos discursos se torna mais evidente na construção da realidade. Quando Bolsonaro disse, em 2018, que “as minorias vão ter que se curvar às maiorias”, estudiosos da linguagem alertaram de que aquela fala tinha uma matriz ideológica fascista. O motivo é que ela inflamava seus seguidores a direcionarem os sentimentos de frustração e indignação com a corrupção contra a esquerda e os grupos identitários, o que acabou contagiando boa parte da população. Muito similar ao que aconteceu na Itália Fascista e na Alemanha Nazista.⁣

É sabido que todo discurso carrega consigo uma conexão com enunciados anteriores que delimitam um jeito de pensar, fazer, saber e até sentir diante das cenas do cotidiano onde atuamos. Ou seja, não existe discurso isolado e, portanto, não existe discurso “não ideológico”. ⁣


Patrick Charaudeau, pesquisador francês da Teoria Semiolinguística, nos lembra que todo discurso se constitui de explícitos e implícitos, e que todo ato de fala é carregado de estratégias discursivas. Por exemplo, quando uma propaganda nos mostra uma criança expressando prazer enquanto come um nugget de frango, há a mensagem explícita de que “nuggets são gostosos e causam prazer”, e mensagens implícitas de que “crianças comem nuggets e isso as deixam felizes”. ⁣

A estratégia, neste exemplo, é de estabelecer um “fazer-sentir” (o prazer) para um “fazer-fazer” (consumir), processo que está por trás de toda normalização da indústria da exploração animal. É por isto que o veganismo propõe embates no campo discursivo, para mostrar o que está por trás da produção dos alimentos (um fazer-saber) e promover ressignificações acerca da nossa relação com os animais (um fazer-crer).⁣

No campo político não é diferente. Candidates criam discursos carregados de “fazer-sentir” com o objetivo de falar mais às emoções do que à razão para levar o eleitorado a um “fazer-fazer” (votar) que os favoreça. Por isto é fundamental que busquemos os discursos prévios des candidates, para entendermos suas matrizes ideológicas e suas estratégias discursivas de forma a enxergarmos os explícitos e implícitos de suas falas.