Interseccionalidade: uma breve contextualização para o veganismo

Apontamentos sobre cidadania, opressões e as perspectivas ...

O conceito de interseccionalidade remete à jurista estadunidense Kimberlé Crenshaw, porém também remete aos movimentos de mulheres negras norte-americanas da década de 1970, que já atuavam com o entendimento de que as opressões (gênero, classe, raça e sexualidade) não deveriam ser entendidas separadamente, mas de forma articulada e entrelaçada.⁣

O feminismo negro tem papel fundamental no que hoje entendemos como sistematização do conceito de interseccionalidade, como nas obras de Audre Lorde e bell hooks. Não teria como haver uma luta envolvendo uma só questão porque não se vive sem essas intersecções, de uma realidade complexa com entrelaçamento de experiências vividas por mulheres negras, trabalhadoras,
lésbicas.⁣

O movimento vegano vem tomando uma forma em que universaliza os indivíduos a partir da vivência de homem, branco, cisgênero, heterosexual, de classe média e liberal. Isso torna o movimento etilizado e incapaz de analisar a realidade em suas mais complexas e distintas nuances de intersecções, inviabilizando qualquer forma de ação que construa as condições para a libertação animal de fato.⁣

Entendemos, enquanto um movimento vegano anticapitalista, que o capitalismo se baseia e se reforça sobre todas as formas de opressão – racismo, machismo, sexismo, especismo, capacitismo, classismo, etc. Assim como cada estrutura de opressão também se alicerça e se cruza em outra estrutura de opressão, fazendo com que seja necessário superar toda essa rede de opressão, exploração e destruição conjuntamente, conectando todas as lutas entre si.⁣

Para saber como modificar e superar a realidade em que vivemos, são necessárias ferramentas precisas para analisar e compreender essa mesma realidade em sua totalidade, materialidade e complexidade de estruturas e nuances.⁣

⁣Recomendamos a leitura das autoras negras e feministas citadas, bem como de outras, para um maior aprofundamento nas origens e desenvolvimento desse conceito de interseccionalidade. Outras sugestões são o livro “Política sexual da carne”, da Carol J. Adams, que faz um pararelo entre carnismo e sexismo, e o podcast Outras Mamas, que analisa esse livro, capítulo por capítulo, nos seus primeiros episódios (nos demais também tem como base a relação entre feminismo e veganismo, vale muito ouvir tudo!).

Entendemos que o anticapitalismo e a interseccionalidade são fundamentais para lutar por um veganismo que realmente se propõe a construir as condições para a libertação animal!