As imagens produzidas dentro de abatedouros são reveladoras sobre aquilo que neurocientistas chamam de senciência. As manifestações físicas e sonoras dos animais na linha do abate revelam estratégias complexas de ação e comunicação que demonstram que eles não querem estar ali porque sabem que algo ruim os espera.
A senciência está relacionada à capacidade de sentir, conscientemente, as sensações mais básicas. É a habilidade de, subjetivamente, experimentar dor, frio, (des)conforto, e diferenciar estados internos como bons ou ruins, agradáveis ou desagradáveis, tranqüilos ou ameaçadores.
O mecanismo empático humano é naturalmente capaz de reconhecer as pistas físicas e sonoras destes estados, mas na cultura capitalista, somos ensinados a ignorar estes sinais em nome de falsas necessidades criadas para fazer a roda do consumo girar.
Foi necessário que os maiores nomes da neurociência firmassem um manifesto atestando a senciência dos animais para desarmar os negacionistas, concluindo que todos os mamíferos, aves e outras criaturas, incluindo polvos, têm consciência de sua própria existência e do mundo que os cerca.
A frase “Não é mais possível dizer que não sabíamos”, de Philipe Low, foi criteriosamente escolhida para apresentar o manifesto, pois, por muito tempo, a indústria pecuária usou e abusou de narrativas que negavam o sofrimento animal pra justificar os maiores tipos de abuso contra os animais.
As pesquisas conduzidas por Low e outros 25 pesquisadores do MIT e da Universidade de Stanford tornam mais difícil defender a afirmação de que alguns animais não sofrem ou não tem consciência de que vão morrer. A percepção de que algo ruim os aguarda em um futuro próximo faz com que muitos animais tentem fugir antes mesmo de chegarem ao seu final, nos abatedouros.
Em julho de 2019, um porquinho com a coluna fraturada apareceu às margens da BR 290, em Eldorado do Sul/RS. Os veterinários que fizeram os primeiros atendimentos acreditam que ele tenha caído ou até mesmo pulado do caminhão que o levava ao abate, mesmo destino de 46,33 milhões de suínos que foram mortos naquele ano.
Batizado como Pingo, o porquinho sobrevivente demonstra diariamente suas expectativas quando é tratado ou recebe visitas no @sant_vozanimal. Em janeiro, recebeu um documento que atesta sua qualidade “sui generis”, que o descaracteriza como bem fungível (substituível) e o reconhece como sujeito de características únicas em sua espécie.
Por suas ações e pensamentos complexos, @pingodecompaixao se tornou um símbolo de resistência em um sistema que ainda nos força a fechar os olhos para a senciência animal!
(Os @ são de constas no Instagram, confere lá)!